A História de Marinho Chagas e sua trajetória de sucesso no Mundo do Futebol

A história de Marinho Chagas pode ser confundida com a de muitos meninos que sonham com uma trajetória no futebol. Marinho era de família pobre e o caçula entre nove irmãos.

Também por isso não teve luxo algum durante a infância, mas tinha em seus pés habilidades que ainda o levariam longe. Em especial o direito. Marinho se transformaria em lenda do futebol.

O estilo único de Marinho Chagas

Irreverente, bom vivant, constestador, polêmico, alegre. E um craque com a bola nos pés. Amigos e amigas deste blog, vamos falar de um dos maiores laterais pela esquerda que o país do futebol já revelou. Vamos falar de Marinho Chagas.

Lateral-esquerdo habilidoso e dono de um chute potente de direita, Marinho encantou torcedores e adversários com sua técnica refinada e seu estilo único dentro de campo.

Além de ter brilhado em clubes como o Botafogo, Fluminense, São Paulo e New York Cosmos, Marinho também deixou sua marca na história da Seleção Brasileira, tendo sido convocado para disputar a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha.

A HISTÓRIA DE MARINHO CHAGAS

Infelizmente, a vida de Marinho Chagas foi interrompida precocemente, mas seu legado como jogador e como pessoa continua vivo até hoje. Este artigo é uma homenagem a esse grande ídolo do futebol brasileiro, que deixou saudades e muitas boas lembranças para todos que tiveram o prazer de vê-lo jogar.

As estréias de Marinho Chagas

Marinho estreou na vida em Natal, no Rio Grande do Norte, aos 8 dias de fevereiro de 1952. Ficou conhecido por sua habilidade como lateral-esquerdo e por sua personalidade irreverente, sendo considerado por muitos como um dos maiores jogadores de futebol do Brasil. Para nós íntimos era o Diabo Loiro, ou a Bruxa, ou o Canhão do Nordeste.

O estilo de jogo do loiro era moderno, tido até como “além de seu tempo”, pois, diferentemente da maioria dos defensores da época, Marinho gostava muito de atacar, subia com frequência para ajudar os atacantes na frente e era dotado de um forte chute com a perna direita, além de ser um ótimo batedor de faltas.

Além do talento com a bola nos pés, a cabeleira de Marinho é parte importante de sua trajetória. Os fios loiros e longos, quase tão fartos e inconfundíveis quanto sua habilidade e personalidade, marcaram o lateral, não à toa chamado de “diabo loiro” e também de “bruxa loira”, pelos torcedores botafoguenses e companheiros de Fogão, por sua aparência franzina e cabelos grandes. Apelidos que Marinho sempre levou na brincadeira.

Início e ascensão meteórica

Foi o olhar clínico de um sargento da marinha que proporcionou a Marinho os seus primeiros passos de sua carreira de sucesso dentro do futebol. Assim ele foi levado e deu as suas primeiras arrancadas pela esquerda no pequeno Riachuelo, clube de sua cidade natal. O ano era 1967.

Dois anos depois e com apenas 17 anos Marinho já estava no tradicional ABC, também de Natal. No alvinegro potiguar, apesar da pouca idade, foi o grande destaque da campanha vitoriosa da equipe que acabou com um jejum de títulos estaduais que já ia para 3 anos. O ano era 1970, a ascensão do atleta era meteórica e o futebol potiguar já era pequeno para o lateral.

Foi assim que em 1971 Marinho se transferiu para o Náutico, do vizinho estado do Pernambuco. Por 2 anos a Bruxa desfilou seu futebol pelos gramados do Capiberibe e firmou-se como um dos melhores de sua posição.

Não tardou para que Marinho Chagas desembarcasse no Rio de Janeiro para defender as cores do clube da Estrela Solitária. O grande Botafogo procurava no mercado um substituto para Nilton Santos, ídolo da equipe e conhecido como “enciclopédia”.

Na verdade Marinho chegou como uma aposta. Jovem, com grande potencial e dono de uma personalidade forte. E a aposta acabou tornando-se certeira.

O dia em que o Rei encontrou a Bruxa

A começar por seu jogo de estréia, que não poderia ser mais marcante: contra o Santos do já consagrado e tricampeão do mundo Pelé, e com apenas 20 anos, Marinho não se intimidou.

Nesta partida aconteceu um dos lances mais icônicos de sua carreira no futebol: em um lance contra o eterno camisa 10 do Santos, Chagas roubou-lhe a bola e, quando o Rei tentou retomar a posse da pelota, a Bruxa atacou: aplicou-lhe um lençol e, em seguida, botou a bola entre as pernas de Pelé, que saiu rasgando xingamentos ao loiro abusado.

O jogo terminou 1 a 1 e adivinhem quem marcou o gol do Fogão? Pois é, Marinho guardou um gol de falta logo em sua estréia e apresentou então o seu cartão de visitas, para deleite de todos os torcedores presentes no Maracanã.

Ao final do jogo foi falar com o Rei, deu-lhe um abraço, pediu desculpas e os dois saíram em paz. Este foi o dia em que o Rei encontrou a Bruxa, uma bela história de Marinho Chagas no mundo do futebol.

MARINHO CHAGAS

Sua atuação nesta partida foi muito elogiada pela imprensa e pelos torcedores, visto como um grande talento e uma promessa do futebol brasileiro. Desde então firmou-se como titular da Camisa 6 e começava a construir sua história no alvinegro como um de seus maiores ídolos.

Com a camisa da Estrela Solitária Marinho Chagas transformou-se em um dos melhores da lateral esquerda da época a ponto de cavar o seu lugar no grupo da Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo de 1974 a ser realizada na Alemanha.

Podemos dizer que seus anos de Botafogo foram sim os melhores de sua carreira. Mesmo sem conquistar nenhum título pelo clube, foi ali que Marinho atingiu o status de craque, a fama e a Seleção Canarinho.

De 72 a 77 foi ídolo do Glorioso e ficou na memória dos botafoguenses o loiro desfilando com elegância, carisma e habilidade extrema pelos gramados cariocas.

Marinho é Seleção

A estréia de Marinho Chagas na Seleção aconteceu em um amistoso contra a Suécia em jogo amistoso de 1973. Marinho teve uma atuação segura e ajudou o Brasil a conquistar uma vitória de 2 a 0, chamando a atenção por sua habilidade na marcação e pela qualidade no apoio ao ataque.

O lateral tornou-se então presença constante nas convocações da Seleção até chegar na Copa do Mundo de 1974 como titular absoluto. Jogou todas as partidas do Brasil na Copa, que infelizmente foram até às quartas de final da competição, quando a Seleção Canarinho caiu diante do Carrossel Holandês de Johan Cruijff.

Foi contra a Polônia o famoso atrito com Emerson Leão, na partida que valia a terceira posição do torneio. O goleiro não gostava nada das subidas do loiro ao ataque, pois entendia que a defesa ficava vulnerável sem o lateral no setor defensivo e por isso alertou-o sobre um certo polonês que atuava pelo seu lado: um certo Grzegorz Lato, dono da camisa 7.

MARINHO CHAGAS

E por azar o gol da vitória dos poloneses veio justamente pelos pés de Lato, em um contra-ataque nas costas de Marinho, que não estava na defesa, pois havia subido para ajudar ao ataque. O fato gerou a fúria do goleiro e acabaram chegando às vias de fato no vestiário.

Durante o programa “Golaço”, da Rede Mulher de Televisão, no ano de 2007, o ex-zagueiro Alfredo Mostarda falou sobre o atrito entre o goleiro Emerson Leão e o lateral-esquerdo Marinho Chagas, no dia daquele Polônia e Brasil:

“O Leão já tinha falado para o Marinho Chagas não subir tanto, porque a Polônia tinha o Lato, que era um jogador que atuava muito bem pela ponta direita. O Marinho subiu. E o Leão, bastante irritado, não se segurou. Partiu pra cima do Marinho no vestiário.”

Marinho na Europa?

Porém, apesar do entrevero com Leão, o descuido não chegou a ferir a imagem do jogador no mundial. Tanto que consta que houve uma oferta do Schalke 04, que foi recusada pelo atleta. Marinho não quis trocar o sol do Rio de Janeiro pelo frio alemão, principalmente porque estava prestes a se tornar pai de seu primeiro filho.

Após a Copa, Marinho seguiu seu caminho no Botafogo até 1977. Em 78 transferiu-se para o Fluminense mas sua passagem pelo Tricolor das Laranjeiras foi rápida, durando apenas um ano.

Uma boa história de Marinho Chagas no futebol aconteceu em uma excursão do Tricolor pela Europa: em uma festa no velho continente, Marinho teria se encantado por uma bela mulher, perguntou quem era e ficou sabendo que tratava-se da Princesa de Mônaco.

Com sua fama de galanteador não perdeu a chance e, com todo o seu charme e jogo de cintura, conquistou a simpatia da princesa.

O Diabo Loiro chega a Hollywood

Outra boa história de Marinho Chagas no futebol: com sua pinta de ator de Hollywood, nada mais adequado que juntar-se às estrelas do futebol. E foi assim que ele foi atuar pela equipe americana do Cosmos, na terra do Tio Sam.

Jogou ao lado de craques como Carlos Alberto Torres, Franz Beckenbauer e Giorgio Chinaglia. Jogou pouco tempo em Nova Iorque, mas o bastante para que conquistasse muitos amigos por lá.

Em terras americanas atuou também pelo Fort Lauderdale Strickers da Flórida, após sua saída do Cosmos, e durante o ano de 1980. Mas um chamado do Brasil o trouxe de volta: Em 1981 Marinho foi então o lateral-esquerdo campeão paulista pelo São Paulo Futebol Clube, em final contra a Ponte Preta de Campinas.

Foram 85 jogos pelo Tricolor Paulista, quatro gols marcados e uma Taça de Campeão. Além do título Marinho também foi Bola de Prata da Revista Placar neste ano, principal honraria na época. Sua terceira.

O declínio da carreira e a volta para casa

Depois da bela campanha com o Tricolor sua carreira começou o processo descendente, em clubes de menor expressão. Foi assim que passou pelo Bangu em 1983 onde jogou apenas algumas partidas e seguiu para o Fortaleza em 1984. Na fase final da carreira voltou ao seu estado de origem e ainda atuou pelo América de Natal entre 85 e 86.

Ainda em 86 assinou contrato com o americano Los Angeles Heat e fechou a carreira atuando na Alemanha, no BC Harlekin Augsburg em 1988, aos 36 anos de idade. Foi a terra em que disputou a Copa do Mundo que presenciou suas últimas arrancadas pelos gramados, mesmo que mais tímidas.

Após o encerramento da carreira até tentou a carreira de treinador, mas não vingou. O primeiro e único time sob o seu comando foi o Alecrim, do Rio Grande do Norte.

Mas foi na TV que Marinho Chagas alcançou certo sucesso em programas esportivos, como o “Palavra da Bruxa” e o “Histórias da Bruxa”, além de programas de rádio.

Veja o vídeo completo no Youtube:

Um exemplo a não ser seguido

Não é o intuito deste artigo, mas temos que citar o fato de que Marinho teve problemas com o alcoolismo durante parte de sua vida, especialmente após encerrar sua carreira como atleta.

Em entrevistas concedidas ao longo dos anos, Marinho confessou ter enfrentado dificuldades com o vício em álcool e ter passado por tratamentos para tentar superar a dependência.

Apesar dos problemas enfrentados, também era reconhecido por sua generosidade e por ajudar outras pessoas com problemas semelhantes. Chegou a afirmar certa vez que, mesmo tendo sido bem sucedido na carreira, poderia ter ido além se tivesse evitado o uso abusivo da bebida alcoólica.

É importante ressaltar que o alcoolismo é uma doença que pode afetar qualquer pessoa, independente de sua profissão ou status social.

O vício em álcool pode trazer sérios prejuízos para a saúde e para a qualidade de vida de uma pessoa, mas também é possível superá-lo com ajuda especializada e com perseverança. O intuito deste é uma homenagem, mas que serve também como um alerta.

Perdemos o Canhão do Nordeste

Em 31 de maio de 2014 Marinho estava em uma banca de revistas em um shopping de João Pessoa, em um encontro de colecionadores de figurinhas de jogadores de futebol, organizado por Adeilson Silva.

Quando sentiu-se mal, foi levado imediatamente para a UPA local e transferido para o Hospital de Emergência e Trauma da Paraíba, devido à gravidade do seu quadro de saúde.

Mas às 3 horas do domingo de 1º de junho Marinho Chagas perdeu a batalha para as consequências do alcoolismo e sofreu uma hemorragia gástrica, segundo laudo de seu passamento. Morreu jovem, aos 62 anos de idade.

Marinho Chagas nos deixou há quase uma década, mas sua história ainda vive e inspira muitos amantes do futebol. Sua técnica refinada, sua personalidade autônoma e sua paixão pelo jogo o transformaram em um ídolo para torcedores de todo o mundo.

Seu legado transcende o campo e continua a influenciar gerações de jogadores, treinadores e amantes do esporte.

Por tudo isso, esta homenagem é mais do que merecida. Que Marinho Chagas siga sendo lembrado e reverenciado por muitos anos, como um dos maiores ícones do futebol brasileiro.

O que dizer de Marinho Chagas?

No futebol há quem defenda que um jogador resume-se ao que ele ganhou, taças e títulos que acumulou em sua trajetória. Mas então Marinho Chagas não seria ninguém então?

É certo que o loiro não possui um curriculum vasto de títulos e taças. Suas conquistas são as histórias que viveu, os amigos que fez, as pessoas que o admiravam e toda a graça que ele deixava em cada partida, cada batalha que jogou.

Em um tempo em que defender era prioridade, a Bruxa quebrou os padrões impostos: irritou adversários e companheiros, mas agitou e animou todos os loucos por este esporte, o nosso esporte.

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